segunda-feira, 30 de novembro de 2009

AD'eus

Algo me atinge,
Vindo dum lugar
Intimamente fora de mim,
E que toca onde eu não há.

Não sei se dói, se satisfaz,
Mas deixa a alma em branco,
E, no entanto, sem paz.

Como pode o corpo
Portar o insuportável,
Aquilo que não sei ser
Eu ou D'eus?
Onde termino e ele começa?
Onde me faço, onde sou feito?

Sou plenamente vazio,
Carregado de esperanças inúteis
E proveitosos desesperos,
De ocas palavras
Que dublam o dialeto do Nada,
Mas invocando-O
A cada prece frustrada.

Se Ele (Deus, o Nada) fala,
É através da minha voz.
E se assim é,
Deus é louco,
Repetindo-se em si mesmo,
Pedindo aos seus espelhos
Que se curem,
Perdoem,
Ajudem...

Por quê faria Ele isso?
Não pergunto por quê Ele Há;
Tola indagação.
Mas por quê se dar ao trabalho de não se ser o mesmo?
Em outras palavras:
Por quê não há apenas Deus,
Apenas o Um?
Por quê tenho que haver também,
Eu, que sou Outro?
Aí mora Seu Mistério,
E a resposta morre no cemitério.

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